Texto e Fotos: Carol Lopes de Andrade
Maio/2012 – São Paulo – SP
E-mail: carolinside@gmail.com
Instalação pública do escultor Antony Gormley atrai, de maneira mórbida, a atenção de quem passa pelo centro de São Paulo, até julho.
Dia após dia a monstruosa arquitetura do centro paulistano desperta em seus moradores e visitantes diversos tipos de olhares. De um lado personagens curiosos, extasiados e maravilhados por cada detalhe desta engrenagem urbana sempre em funcionamento. Do outro os “pacientes” do vício visual, aqueles que diante das doses cavalares de caos e stress, já se entregaram a dormência silenciosa, que sentencia o indivíduo a enxergar toda a cidade como uma grande e fedorenta massa cinzenta.
Quem ainda não deixou o escritório onde trabalha, no centro, e caminhou longamente para espairecer as ideias? A maioria, de fato, pratica este exercício dentro dos transportes coletivos, de cabeça baixa, e o coração mais apertado do que a linha vermelha do metrô às 18h. A busca pelas vias que deem mais respiro à vida, geralmente, acaba em olhos fechados e fones enterrados nos ouvidos, no vai e vem da imersão individual, aparentemente, a única no qual vale a pena se render.
E as pessoas se rendem! Sem qualquer pudor se lançam nesse ambiente introspectivo de amor e ódio. O que coloca à prova toda nossa percepção de cultura. O que é cultura? O que ela provoca nas pessoas? Como ela transforma as pessoas? Como ela potencializa a relação do homem com o espaço? Estamos andando muito apressados? Estamos nos ignorando demais? Estamos aqui o bastante? Estamos vivos?
Depois de alguns segundos de reflexão, ou pela providência de alguém mais antenado na agenda cultural paulistana, fica tudo mais claro. Nada de susto! Nem de chamar o Superman. A nossa atenção já foi ganha pela peculiaridade de Gormley, e talvez, agora, deixemos de lado nossa convivência mecânica com o espaço urbano, para que, com o olhar, possamos percorrer mais do que os nossos próprios umbigos.
Segundo o escultor, a grande intenção desta instalação é fazer com que as pessoas olhem para cima, para os lados, que contemplem a cidade e, principalmente, que elas se perguntem “o que aquelas coisas estão fazendo ali?”. O importante de olhar para este cenário de pedras, além da própria contemplação, é a abertura pessoal que acabamos permitindo quando as frustrações cotidianas surgem e colocam nossa existência em xeque. (Trecho de sua entrevista na Veja)
Aceno neste texto um efusivo obrigado ao artista e sua equipe. Tirar as pessoas do estado de anestesia e fazê-las olhar ao redor não é uma tarefa fácil. Talvez, por uma pequena fração de tempo, só os suicidas conseguissem.
Informações sobre a mostra:
Antony Gormley – Corpos Presentes
12 de maio a 15 de julho
Local: Subsolo, térreo, mezanino, 1º, 2º e 3º andares.
CCBB SP
Horário: Terça a domingo
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