domingo, 3 de junho de 2012

AO VAZIO

Por Marvin Rosa 
e-mail: marvin.yeah@hotmail.com


Inevitável acordar e não sentir o espaço vago aqui dentro.
Café da manhã, morno e esfumaçado, nenhuma novidade nos jornais
As pessoas continuam morrendo de frio, e o meu mundo gira em torno
Daquele vazio.
Eu lavo o rosto, escovo meus dentes olhando no espelho,
Mas no reflexo eu vejo alguma coisa a menos. Estou em pedaços.
Sento pra escrever e tentar reunir os cacos. Cato milho no teclado
A procura de uma descrição decente para tal situação.
Sinto gosto de palavras presas na minha garganta e meu coração
Bate um compasso estranho, um tango talvez.
E eu não sei dançar, desisto da folha quase em branco,
Olhar pra ela me faz sentir ainda mais vazio
Esse branco nauseante refletindo nas minhas retinas
Eu começo a ver faíscas se remexendo na tela.
Resquícios de antigas rotinas. Sinto o vazio descendo pelo meu corpo,
Deve ser fome, mas não tenho apetite mais, o vazio ocupa o espaço
Da comida.
Me sinto leve, vontade de flutuar pra longe. Já que esse vazio não some
Talvez ele me eleve, como um daqueles monges tibetanos que de tanto
Ficarem parados, levitam. Eles vêem além do Maya, mas não eu.
A sabedoria do silêncio ou o desperdício da voz.
Se esse Vazio sempre esteve perpassando a tudo desde a Gozada Divina Primordial
Eu deveria ter percebido isso antes, mas estava distraído com o barulho do Mundo
E agora essa quietude toda me devora.
Mas agora eu sei, ele é todo meu, sempre fora e sempre será.
Estamos todos nele, à deriva, rio abaixo, com remos imaginários
Esperando a queda.
Nada importa antes, nem depois e isso me conforta
E num instante o vazio desaparece
Eu abro a porta com um sorriso de quem matou a charada
Lá fora o azul vasto e ilusório do céu de outono
E a luz perene e morna do Sol que me aquece.
Então eu me esqueço do Vazio, mesmo sabendo
Que ele nunca nos esquece...

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