Por Ane Tavares
O consenso
geral prega a ideia de que o bom jornalismo deve ser neutro. Não deve haver um
“eu” ou opiniões, mas sim, o relato de fatos narrados por um autor quase
invisível.
O polêmico
Jornalismo Gonzo traz uma ideologia contrária a este consenso. O gênero foi
criado na década de 60, nos Estados Unidos, por Hunter S. Thompson, jornalista
niilista, boêmio e usuário assíduo de alucinógenos.
O termo
“gonzo” provém de uma gíria irlandesa para designar “o último homem em pé após
uma maratona de bebedeira”.
Hunter
Thompson ganhou notoriedade com seu modo despojado de escrever e narrar os
fatos. Ou estava embriagado, ou chapado, ou os dois ao mesmo tempo. Em seus
textos, não há a realidade objetiva a qual vemos no jornalismo tradicional.
Thompson oferece um conjunto de subjetividades e universos oníricos -
características que podem ser notadas nas obras Medo e Delírio e Rum
– Diário de um Jornalista Bêbado, ambas adaptadas para o cinema.
Na terça-feira,
17/4, assisti à este último: Rum – Diário de um Jornalista Bêbado. O
filme, estrelado e produzido por Johnny Depp, conta a história do jornalista
Paul Kemp (alter ego de Thompson), que na década de 1950 deixa os Estados
Unidos para trabalhar em um jornal decadente de Porto Rico. Ao chegar na ilha,
Kemp se depara com um cenário político caótico e um ambiente de trabalho
displicente – tudo isso acompanhado por muito, mas muito rum!
O filme tem
tudo para ser um sucesso de bilheteria. Traz boas doses de romance, comédia e
sarcasmo inteligente. Porém, leitores fiéis de Thompson podem se decepcionar
bastante com a adaptação. Se comparado a obra original, a versão do diretor
Bruce Robinson apresenta um Paul Kemp careta e idealizador (características que
não integravam o universo onírico descrito por Thompson).
Mesmo não
sendo aclamado pela crítica, vale a pena assistir e comparar os modelos de
jornalismo do final do século XX e deste início, XXI. Se antes a “tendência”
era libertar a mente com o uso de alucinógenos e também do álcool, agora, o que
prevalece é o “politicamente correto”.
Mande sua opinião para nós: VOCÊ ACHA QUE PARA FAZER O JORNALISMO GONZO É PRECISO USAR ARTIFÍCIOS ILÍCITOS?
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